Mesada para Crianças: Como esta ferramenta transforma a educação financeira
- Mady Moreira
- 24 de mar.
- 8 min de leitura

Será que dar uma mesada aos nossos filhos realmente os prepara para o futuro?
A educação financeira é um pilar fundamental para o desenvolvimento integral das crianças, mas muitos pais questionam-se sobre qual a melhor forma de a implementar.
A mesada ou semanada surge como uma ferramenta prática e eficaz, que permite às crianças aprenderem, desde cedo, a gerir o seu próprio dinheiro.
Este método vai muito além de simplesmente entregar uma quantia monetária aos mais novos: trata-se de uma estratégia pedagógica que desenvolve competências essenciais para toda a vida.
De acordo com especialistas, "a mesada vai capacitar a criança para que se torne capaz de definir prioridades e gerir o seu próprio dinheiro, sendo esta capacitação essencial quer para o seu desenvolvimento, quer para a sua vida adulta".
Como gerir a mesada infantil de forma inteligente?
A mesada ou semanada é uma ferramenta poderosa para ensinar as crianças a gerir o dinheiro desde cedo.
Mais do que um simples valor recebido periodicamente, é uma oportunidade para desenvolver responsabilidade, autonomia e capacidade de planeamento financeiro, competências fundamentais para a vida adulta.
Mas como implementar esta ferramenta de forma eficaz? Que valor atribuir? Que cuidados ter? E se o dinheiro não for suficiente? Como lidar com os erros inevitáveis?
Neste artigo, vamos explorar todas essas questões com base em experiências reais, opiniões de especialistas e dicas práticas.
A importância da mesada na educação financeira infantil
De acordo com a psicóloga infantil Marta Figueiredo, "quando a criança aprende a gerir pequenas quantias de dinheiro, desenvolve um sentido de responsabilidade que levará para a sua vida adulta. A mesada ajuda-a a definir prioridades e a entender a importância de poupar".
Muitas mães relatam que começaram a dar mesada aos filhos para ensiná-los a gerir despesas pessoais, como pequenos lanches ou brinquedos, e perceberam uma grande mudança na forma como os filhos encaram o dinheiro.
Carla Mendes, mãe de dois, conta: "No início, gastavam tudo de uma vez, mas com o tempo começaram a pensar antes de comprar. Hoje, até poupam para objetivos maiores".
A opinião de quem sabe
A Dra. Mariana Santos, psicóloga infantil e especialista em educação financeira, defende que "a mesada é um laboratório de aprendizagem, onde as crianças podem cometer erros num ambiente seguro". Segundo a especialista, "quanto mais cedo a criança começar a lidar com dinheiro, mais natural será a sua relação com as finanças no futuro".
O economista e educador financeiro Dr. António Silva acrescenta: "As crianças que recebem mesada e aprendem a geri-la tendem a tornar-se adultos mais conscientes e responsáveis nas suas decisões financeiras. É um investimento no futuro".
Experiências reais: o que dizem as famílias portuguesas
Sofia Martins, mãe de dois filhos de 8 e 10 anos, partilha a sua experiência: "Começámos a dar mesada quando o mais velho fez 7 anos. No início, foi confuso para ele entender que aquele dinheiro tinha de durar toda a semana, mas com o tempo, aprendeu a planear os seus gastos. Hoje, até poupa parte da mesada para comprar algo maior que deseja".
"A minha filha de 9 anos surpreendeu-me quando, depois de três meses a receber mesada, decidiu usar parte do dinheiro para comprar um presente para a avó", conta Inês Oliveira. "Percebi naquele momento que a mesada ensinava-lhe não apenas sobre poupança, mas também sobre generosidade".
Ana Lopes, mãe de um adolescente de 14 anos, relata: "Começámos com uma pequena semanada quando ele tinha 8 anos. Hoje, com 14, já consegue gerir a sua mesada mensal, poupando para objetivos maiores. Recentemente juntou dinheiro para comprar uns auscultadores que queria muito. Foi uma lição de perseverança que nenhuma palestra poderia ensinar".
Como calcular o valor ideal da mesada para crianças
Definir o valor adequado para a mesada é um dos maiores desafios para os pais. Aqui ficam algumas orientações:
Considere a idade da criança: Uma regra prática é atribuir 1 € por semana por cada ano (por exemplo, 7 € semanais para uma criança de 7 anos).
Objetivos da mesada: Se a criança for responsável por despesas como lanches, passeios ou materiais escolares, o valor deve ser ajustado de acordo.
Avalie o contexto socioeconómico familiar: A mesada deve ser adequada às possibilidades da família, sem criar disparidades excessivas relativamente aos colegas. O mais importante é que o valor não comprometa o orçamento familiar e que seja sustentável a longo prazo.
Defina claramente o que a mesada deve cobrir: Determine se a mesada é apenas para pequenos desejos ou se deve cobrir necessidades como lanches escolares ou atividades com amigos.
Aumente gradualmente: À medida que a criança cresce, o valor pode aumentar, acompanhando novas responsabilidades.
Considere o formato: Para crianças mais novas (6-8 anos), uma semanada pode ser mais adequada; para crianças mais velhas, uma mesada mensal ensina planeamento a longo prazo.
Cuidados essenciais ao implementar a mesada
Implementar uma mesada requer alguns cuidados importantes:
Consistência: Estabeleça um dia fixo para a entrega da mesada e cumpra rigorosamente.
Regras claras: Defina antecipadamente quais as responsabilidades associadas à mesada e se existem condições para a receber. Combine previamente quais despesas cobrirá e se haverá extras.
Evitar resgates: Se a criança gastar tudo de uma vez, não ceda ao impulso de dar mais dinheiro. Isso ensina a importância de gerir bem os recursos disponíveis.
Evite usar a mesada como recompensa ou castigo: A mesada deve ser um instrumento educativo, não disciplinar.
Acompanhamento sem controlo excessivo: Oriente sem interferir demasiado nas decisões da criança.
Reveja periodicamente: Avalie regularmente se o sistema está a funcionar e faça os ajustes necessários. Ajuste a mesada à medida que a criança cresce e as suas necessidades mudam.
E se o dinheiro não chegar ao fim do período?
Um dos momentos mais educativos da mesada ocorre quando a criança gasta todo o dinheiro antes do final do período estabelecido. Como lidar com esta situação?
A Dra. Mariana Santos recomenda: "Resista à tentação de adiantar a próxima mesada. Este é um momento de aprendizagem valioso sobre consequências e planeamento".
Eis algumas estratégias para estas situações:
Transforme em oportunidade de aprendizagem: Converse sobre o que aconteceu e como evitar no futuro.
Ofereça alternativas sem dinheiro: Sugira atividades gratuitas para o período restante.
Proponha tarefas extras: Para casos excecionais, pode oferecer a possibilidade de ganhar um extra com tarefas adicionais.
Analise juntos onde foi gasto o dinheiro: Sem julgar, reveja com a criança como o dinheiro foi utilizado.
A falta de dinheiro pode ser uma excelente oportunidade de aprendizagem.
Em vez de dar mais dinheiro, ajude a criança a refletir sobre como poderia ter gerido melhor o valor recebido.
Pergunte: "O que podes fazer diferente para que o dinheiro dure mais?". Assim, ela aprende a planear melhor e a evitar compras por impulso.
Aproveitar a mesada para ensinar a poupar
A mesada é uma excelente oportunidade para introduzir o conceito de poupança:
A regra dos três mealheiros: Divida a mesada em três partes - para gastar, poupar e doar.
Criar um cofrinho ou conta-poupança: Ensine a criança a reservar parte do dinheiro para objetivos futuros.
Objetivos concretos: Ajude a criança a definir metas de poupança alcançáveis e visíveis.
Celebre as conquistas: Reconheça quando a criança atinge os seus objetivos de poupança.
Explique juros de forma simples: Para crianças mais velhas, pode introduzir o conceito oferecendo um "bónus" sobre o valor poupado (por exemplo, 5% extra ao fim de um mês sem gastar determinada quantia).
Incentivar pequenos investimentos: À medida que a criança cresce, introduza conceitos como juros e investimentos simples.
Recursos e ferramentas úteis em Portugal
Para famílias portuguesas que desejam implementar a mesada de forma eficaz:
Caderneta Poupança Jovem (vários bancos): Contas bancárias específicas para crianças e jovens, geralmente sem custos de manutenção.
Aplicação "Poupinhas": App portuguesa que ajuda crianças a gerir a sua mesada, com funcionalidades de definição de objetivos.
Mealheiros digitais do MillenniumBCP e Caixa Geral de Depósitos: Ferramentas online que permitem às crianças visualizar as suas poupanças.
Programa "Todos Contam": Iniciativa do Plano Nacional de Formação Financeira com recursos educativos gratuitos.
Livro "Educar para Poupar" de Maria Campos: Guia prático para pais portugueses sobre educação financeira.
"Mesada e Semanada: Como Ensinar os Seus Filhos a Poupar" – Livro de Pedro Andersson.
"Poupar e Investir desde Pequeno" – Curso online gratuito da DECO.
Doutor Finanças: Mesada para crianças - um guia prático - Doutor Finanças
Recursos e ferramentas úteis no Brasil
Para famílias brasileiras:
Aplicativo "Mesada Inteligente": Ferramenta digital brasileira para gestão da mesada.
Conta Kids do Nubank: Conta digital específica para crianças, com controlo parental.
Programa "Educação Financeira nas Escolas" da B3: Recursos educativos gratuitos.
Livro "Dinheiro de Bolso" de Gustavo Cerbasi: Guia específico sobre mesadas para o contexto brasileiro.
Banco Central do Brasil - Cidadania Financeira: Portal com conteúdos educativos gratuitos para diferentes idades.
Aplicativo "Meu Dinheirinho" – App educativo para crianças aprenderem a gerir dinheiro.
Livro "O Pequeno Grande Livro da Educação Financeira" – Gustavo Cerbasi.
Mesada Educativa: Como Ensinar Educação Financeira para Crianças de Forma Prática: Mesada educativa: como ensinar educação financeira para crianças de forma prática
Recursos e ferramentas úteis em Angola
Para famílias angolanas:
Conta Bankita Crescer do BPC: Conta bancária específica para jovens sem custos de manutenção.
Programa "ABC da Poupança" do BFA: Iniciativa de educação financeira para crianças.
Livro "Aprender a Poupar" da editora angolana Chá de Caxinde: Material educativo adaptado à realidade local.
Workshops de Educação Financeira do BAI: Sessões periódicas gratuitas para crianças e jovens.
App "Kamba": Aplicação angolana que pode ser usada para introduzir conceitos financeiros digitais aos adolescentes.
"Aprender a Poupar" – Iniciativa do Banco Nacional de Angola.
Conta Crescer (Banco BAI) – Conta poupança para crianças e adolescentes.
Workshops de educação financeira da Unitel – Cursos gratuitos para jovens.
Dicas práticas para implementar a mesada com sucesso
Comece cedo: A partir dos 5-6 anos, as crianças já podem começar a receber pequenas quantias.
Use dinheiro físico para os mais novos: Notas e moedas são mais concretas e facilitam a compreensão.
Envolva a criança na definição de regras: Pergunte-lhe como planeia usar o dinheiro.
Crie um contrato simples da mesada: Formalize as expectativas de ambas as partes.
Faça avaliações periódicas: A cada três meses, converse sobre como está a correr.
Seja exemplo: Demonstre bons hábitos financeiros no dia-a-dia.
Adapte à personalidade: Algumas crianças são naturalmente poupadoras, outras mais gastadoras – ajuste as estratégias.
Não ceda a pedidos extra: Mantenha-se firme para reforçar a aprendizagem sobre limites.
Ofereça instrumentos visuais: Gráficos ou tabelas podem ajudar a visualizar progressos de poupança.
Comemore pequenas vitórias: Reconheça quando a criança toma boas decisões financeiras.
Ensine a criança a comparar preços antes de fazer uma compra.
Incentive a criança a ganhar dinheiro extra através de pequenas tarefas domésticas.
A mesada é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa para a educação financeira das crianças.
Através dela, os mais pequenos aprendem conceitos fundamentais como planeamento, tomada de decisão, priorização e satisfação adiada – competências que serão essenciais ao longo de toda a vida.
Como em qualquer estratégia educativa, a consistência e o acompanhamento são fundamentais.
Mais do que entregar dinheiro, a mesada é uma oportunidade de diálogo sobre valores, escolhas e responsabilidade.
Ao implementá-la de forma consciente e estruturada, estamos a investir não apenas na literacia financeira dos nossos filhos, mas no seu desenvolvimento como pessoas autónomas e responsáveis.
O objetivo não é criar pequenos avarentos ou consumistas, mas sim indivíduos capazes de tomar decisões financeiras informadas e equilibradas, em harmonia com os seus valores e objetivos de vida.
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