Como a Maternidade Revela Gatilhos Emocionais e Como Lidar com Eles
- Mady Moreira
- 28 de fev.
- 7 min de leitura

Será que a maternidade desperta os nossos gatilhos ou apenas os revela?
A maternidade é uma experiência profundamente transformadora.
No entanto, muitas mães sentem que, ao embarcarem nessa jornada, surgem emoções intensas como frustração, impaciência e medo.
Será que essas emoções aparecem devido ao papel de mãe ou apenas revelam marcas que já existiam dentro de nós?
Os Gatilhos Emocionais e a Maternidade
A verdade é que a maternidade não cria gatilhos emocionais – ela apenas os revela.
Aquele momento em que a paciência se esgota ou quando o medo de falhar se torna avassalador não surge do nada.
São reações baseadas em experiências anteriores, muitas vezes enraizadas na nossa infância ou em traumas não resolvidos.
O comportamento de uma criança pode funcionar como um espelho, refletindo partes de nós que ainda precisam de atenção e cura.
Quando um filho chora incessantemente, recusa-se a obedecer ou exige atenção constante, ele não está a “tirar-nos do sério”, mas sim a ativar feridas emocionais que estavam latentes.
Será que o seu filho "porta-se mal" ou apenas revela o que já existe dentro de si?
A maternidade é frequentemente retratada como um sonho romântico repleto de momentos de ternura e alegria infinita.
No entanto, a realidade por detrás das portas fechadas revela um cenário bem diferente para muitas mães.
Aquele momento em que perdemos a paciência com os nossos filhos, a frustração que explode sem aviso, a angústia de sentir que não estamos a ser "boas mães" – estas experiências são mais comuns do que imaginamos e escondem uma verdade profunda: a maternidade não cria gatilhos emocionais, apenas os revela.
Este fenómeno, ainda pouco discutido nas rodas de conversa entre mães, merece a nossa atenção.
Quando compreendemos que as reações intensas que temos perante o comportamento dos nossos filhos são, na verdade, reflexos das nossas próprias feridas emocionais, abrimos caminho para uma transformação pessoal genuína.
Experiências Reais de Outras Mães
Maria, mãe de duas crianças
"Sempre me considerei calma, mas após ser mãe percebi que pequenas birras me deixavam furiosa. Com o tempo, percebi que a minha impaciência vinha da forma como fui criada, num ambiente onde emoções fortes eram reprimidas."
Carla, mãe de um bebé de um ano
"Senti-me perdida e constantemente culpada por não ser a mãe perfeita. Após procurar ajuda, compreendi que o meu medo de errar estava ligado à minha autocrítica excessiva."
Ana, 32 anos, Lisboa
"Sempre me considerei uma pessoa calma, até que o meu filho de 3 anos começou a testar limites. Um dia, após ele derramar propositadamente um copo de leite pela terceira vez, explodi numa fúria que me assustou. Percebi que a minha reação desproporcionada estava ligada à forma como os meus pais lidavam com os 'erros' na minha infância – com punição e vergonha. A maternidade revelou-me uma ferida que eu nem sabia que carregava."
Mariana, 36 anos, Porto
"A ansiedade de separação do meu bebé disparava algo em mim que não conseguia explicar. Nas sessões de terapia, descobri que isto estava relacionado com o abandono emocional que vivi quando criança. Os choros do meu filho não eram o problema – eles apenas ativavam memórias dolorosas que eu tinha suprimido. Compreender isto mudou completamente a minha forma de responder às necessidades dele."
Juliana, 29 anos, São Paulo
"Quando a minha filha começou a afirmar a sua independência, a minha primeira reação era controlar tudo. Através de trabalho pessoal, percebi que o meu comportamento estava enraizado no medo profundo de perder controlo, algo que desenvolvi numa família onde o caos emocional era constante. A maternidade revisitou esta insegurança antiga."
O Que Dizem os Especialistas?
Segundo a psicóloga parental Patrícia Monteiro, "A maternidade é um portal para o autoconhecimento. Os desafios emocionais que surgem não significam que a mãe seja incapaz, mas sim que há aspetos internos que precisam de atenção e compreensão."
O neurocientista Dr. Ricardo Alves reforça: "A autorregulação emocional da mãe é essencial para a regulação emocional da criança. Quando os pais conseguem lidar com os seus gatilhos, criam um ambiente mais seguro para os filhos."
A Dra. Sofia Carvalho, psicóloga especialista em parentalidade consciente, explica: "Quando uma mãe reage de forma intensa a um comportamento do filho, raramente é sobre o comportamento em si. Os gatilhos emocionais são como alarmes internos conectados a experiências passadas não resolvidas. A maternidade atua como uma lupa que amplia estas questões, oferecendo uma oportunidade única de cura."
O Dr. Pedro Santos, psicoterapeuta familiar, acrescenta: "O cérebro parental está programado para ressoar com o dos filhos. Esta conexão neurológica profunda desperta memórias implícitas da nossa própria infância. Quando reagimos de forma desproporcionada, geralmente estamos a responder não à criança à nossa frente, mas à criança que fomos um dia e às necessidades que não foram atendidas."
A investigadora brasileira Dra. Luísa Mendonça, da Universidade de São Paulo, reforça: "Estudos mostram que até 85% das reações emocionais intensas que temos com os nossos filhos estão ligadas a traumas ou padrões de relacionamento da nossa própria infância. A maternidade não cria estas tendências – simplesmente as expõe à luz."
Autorregulação Emocional: O Primeiro Passo na Educação dos Filhos
Para educar crianças emocionalmente saudáveis, o primeiro passo não está em técnicas disciplinares, mas em aprender a autorregular as nossas próprias emoções.
Quando uma mãe reconhece os seus gatilhos e aprende a responder a eles de forma consciente, quebra ciclos intergeracionais de padrões emocionais disfuncionais.
Dicas Práticas para Lidar com os Gatilhos Emocionais
Reconheça os seus gatilhos – Sempre que sentir uma emoção intensa, pergunte-se: O que isto me faz lembrar?
Pratique a autorregulação – Técnicas como respiração profunda e mindfulness ajudam a manter a calma.
Invista em autocuidado – Pequenos momentos para si, como um banho relaxante ou uma caminhada, fazem toda a diferença.
Comunique os seus sentimentos – Partilhe com o seu parceiro, amigos ou um grupo de apoio.
Considere apoio profissional – Um psicólogo especializado em parentalidade pode ajudá-la a compreender melhor os seus gatilhos.
Pausar antes de reagir: Respire profundamente e dê a si mesma tempo para responder, não apenas reagir.
Praticar a auto-observação: Pergunte a si mesma: "O que sinto realmente agora? Este sentimento é proporcional à situação ou vem de outro lugar?"
Conectar com o presente: Lembre-se que está a lidar com uma criança, não com a sua história.
Reparar quando necessário: Se reagir de forma exagerada, peça desculpa ao seu filho e explique que está a aprender a gerir as suas emoções.
Como afirma a educadora parental Isabel Figueiredo: "Quando uma mãe trabalha os seus próprios gatilhos emocionais, não está apenas a cuidar de si – está a oferecer ao filho um modelo de saúde emocional que ele levará para a vida."
Recursos e Ferramentas Úteis
Em Portugal:
Associação Portuguesa de Parentalidade Consciente (www.parentalidadeconsciente.pt)
SOS Criança - Linha de Apoio Parental (www.iacrianca.pt)
Livros: “Educar com Mindfulness” de Mikaela Övén
Apoio Profissional:
Linha de Apoio à Saúde Mental (SNS 24): 808 24 24 24
Associação Portuguesa de Psicoterapia Emocional: Oferece consultas a preços acessíveis em várias cidades
Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar: Diretório de terapeutas familiares certificados
Grupos de Apoio:
Mães que Crescem: Grupos presenciais em Lisboa, Porto e Coimbra
Círculos de Mães: Encontros mensais em várias localidades para partilha e apoio mútuo
Associação Portuguesa para a Igualdade Parental: Recursos para pais e mães em processo de autodescoberta
Cursos e Workshops:
Academia de Parentalidade Consciente: Oferece formações online e presenciais sobre autorregulação emocional
Instituto de Formação Parental: Workshops regulares sobre gestão emocional para pais
Centro de Mindfulness de Lisboa: Cursos específicos para mães sobre mindfulness na parentalidade
No Brasil:
Rede Nacional Primeira Infância (www.rnpi.org.br)
Instituto Brasileiro de Neurociência e Psicologia (www.ibneuro.com.br)
Livros: “Disciplina Positiva” de Jane Nelsen
Apoio Profissional:
Centro de Valorização da Vida (CVV): 188 (24 horas)
Portal Psicologia Viva: Plataforma de terapia online com preços acessíveis
Institutos Parentais: Presentes nas principais capitais, oferecem atendimento especializado
Grupos de Apoio:
Movimento Maternidade Consciente: Grupos em todo o país
Casa Mãe: Coletivos de apoio em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte
Rede Amamenta Brasil: Além do apoio à amamentação, oferece grupos de acolhimento emocional
Cursos e Workshops:
Instituto Alana: Cursos gratuitos sobre desenvolvimento infantil e parentalidade
Escola de Pais do Brasil: Formações presenciais em diversas cidades
Plataforma Criança e Consumo: Recursos educativos para pais sobre educação emocional
Em Angola:
Linha de Apoio à Família - Instituto Nacional da Criança (www.inac.gov.ao)
Associação Angolana de Psicologia (www.aapsicologia.ao)
Livros: “A Criança Emocionalmente Saudável” de John Gottman
Apoio Profissional:
Linha SOS Mulher: Suporte telefónico para mulheres em situações de crise
Centro de Aconselhamento Familiar de Luanda: Oferece consultas com preços escalonados
Associação Angolana de Psicologia: Diretório de profissionais qualificados
Grupos de Apoio:
Mães de Angola: Comunidade online e encontros presenciais em Luanda e Benguela
Círculo Feminino de Apoio: Grupos de partilha em várias províncias
União das Mães Angolanas: Recursos de apoio e informação sobre parentalidade
Cursos e Workshops:
Centro de Formação Parental de Luanda: Workshops sobre competências emocionais
Projeto Crescer em Família: Formações gratuitas em comunidades urbanas e rurais
Instituto da Criança: Recursos educativos sobre desenvolvimento infantil e parentalidade
Transformando Gatilhos em Oportunidades de Crescimento
A jornada da maternidade, com todos os seus desafios emocionais, oferece uma oportunidade única para o autoconhecimento e transformação pessoal.
Quando uma mãe reconhece que o comportamento do filho não é a causa dos seus gatilhos emocionais, mas sim o catalisador que os revela, ela dá o primeiro passo numa jornada profunda de cura interior.
Como escreveu a psicóloga portuguesa Clara Sousa:
"A maternidade é um espelho que reflete todas as partes de nós – as belas e as feridas. Quando aceitamos este reflexo como um convite para crescer, transformamos não apenas a nossa experiência como mães, mas também o legado emocional que deixamos para os nossos filhos."
Lembre-se: seu filho não a tira do sério. Ele apenas ativa as partes de si que ainda precisam ser vistas e compreendidas.
E nesta compreensão está o potencial para uma maternidade mais consciente, mais amorosa e, sobretudo, mais libertadora – tanto para si quanto para o seu filho.
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